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 história #mulherartistaresista

Antes de viralizar nas ruas, nas mídias sociais e se tornar um movimento nacional pela visibilidade de mulheres artistas dentro e fora das redes digitais, o #MulherArtistaResista era um pequeno hai kai escrito pela poeta, escritora, DJ e conteudista Natacha Orestes. Em 2014, Natacha foi processada pelo seu estuprador. Motivo: a participação de Natacha na campanha #NãoMereçoSerEstuprada o incomodou, levando-o a ameaçá-la publicamente. Para se defender, Natacha, que sequer havia mencionado o nome dele na participação da campanha, se viu obrigada a narrar publicamente detalhes sobre o crime. Assim, o estuprador a processou por duas vezes: tentou primeiro pela via criminal e, um ano depois, tentou pela via cível.

Foi este o contexto do processo criativo que ambientou o nascimento do hai kai mulher/artista/resista. Os dois processos que Natacha enfrentou obrigaram a artista a mergulhar em um túnel do tempo em que flashbacks vívidos de diversas violências sexuais apagadas de sua memória começaram a vir à tona. Diante dos sintomas de estresse pós-traumático e com um bebê de um ano para cuidar sozinha, a única opção era resistir. A única terapia possível era a arte.

Da dor e da resistência ao silêncio nasceu o poema, que foi publicado em suas redes sociais com uma mensagem de incentivo para que mulheres artistas continuassem dando voz às suas criações mesmo sem plateia ou aplausos. A hashtag surgiu espontaneamente depois da publicação e do compartilhamento do poema na rede.​

Em 2015, Natacha aprendeu a arte do stencil, que possibilitou a impressão do poema em uma camiseta. Foi com essa camiseta que Natacha saiu, ao lado da nadadora Joanna Maranhão, na capa do jornal Folha de S. Paulo em uma matéria escrita pela jornalista Fernanda Mena sobre revitimização em casos de violência sexual. Em 2016, Natacha recebia a notícia de que não havia sido condenada a pagar indenização ao homem que a estuprou. Desde então, Natacha decidiu que seguiria adiante e narraria a sua história para inspirar outras mulheres a resistir e, principalmente, a registrar, por meio da arte, suas histórias de resistência também.

 

O hai kai mulher/artista/resista se materializou em tatuagens, ilustrações, camisetas, grafittis, pixos, esteve presente em diversas ocupações de norte a sul do Brasil, apareceu no videoclipe da canção Morte & Vida Uterina da cantora Paula Cavalciuk, foi tema da Sonore, um evento de música eletrônica cujo palco foi ocupado exclusivamente por mulheres DJs e ganha, todos os dias, cada vez mais mentes e corações pelo Brasil e até mesmo fora dele. No instagram, a hashtag #MulherArtistaResista conta com mais de 11k histórias marcadas. Juntas, essas histórias constroem uma rede em constante atualização e expansão, formando uma vitrine que possibilita não somente a contemplação de diversas linguagens artísticas produzidas por mulheres, mas, principalmente, a conexão entre elas.

 

O movimento #MulherArtistaResista, além de ser plataforma de conexão entre mulheres e uma vitrine de arte contemporânea em tempo real, é também um processo de cura compartilhado, coletivo, capaz de mostrar, na prática, que sobreviventes de violência sexual não são o estigma de vítima/histérica criado e sustentado pela própria psiquiatria, psicologia e psicanálise em torno de corpos do sexo feminino sexualmente violentados. Sobreviventes de violência sexual são sujeitos produtores de sentido. São pessoas profundamente capazes de gerar impacto social e movimentar a humanidade em busca de ressignificar a história da arte a partir de uma perspectiva milenarmente censurada: a das mulheres.

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